A verdade é que a tecnologia pode intensificar dez vezes o poder viciante da urgência.
As tecnologias atuais podem proporcionar tamanha agilidade de resposta às nossas ações que podemos nos perder respondendo mensagens de texto e tuites, achando que estamos sendo produtivos, quando na verdade só estamos nos distraindo.
O maior problema é que podemos estar deixando passar as coisas realmente importantes da vida, como desenvolver sólidos relacionamentos, colaborar para resolver questões importantes ou nos engajar em algum trabalho ponderado e concentrado. Como essas coisas não são tão “clicáveis”, elas são menos estimulantes para o nosso cérebro do que os sons e vibrações de nosso smartphone. Mas, se pararmos para pensar, vemos que essas coisas são muito mais importantes.
Recentemente, vimos uma família que foi assistir à apresentação de balé da filha. Eles estavam sentados mais para o fundo da sala e, das quatro pessoas da família, três estavam jogando nos smartphones, o pai e dois filhos. Só a mãe olhava para o palco. Quando as luzes se apagaram para o início da apresentação, as três pessoas brincando nos celulares reduziram simultaneamente o brilho da tela dos dispositivos e continuaram ocupadas com os smartphones, com a cabeça baixa e o rosto iluminado pelas telas. Foi só quando alguém na fileira de trás pediu para eles desligarem os dispositivos que, meio sem jeito, desgrudaram os olhos dos aparelhos e se puseram a assistir à apresentação.
Como o dr. Ed Hallowell, especialista em transtorno do déficit de atenção, nos disse recentemente:
Nós criamos um novo vício. É o vício em tecnologia… E encontramos pessoas literal e compulsivamente abrindo o e-mail como quem abre um maço de cigarros.
Como afirmou Catherine Steiner-Adair, pesquisadora voltada a investigar os efeitos da tecnologia na vida familiar:
Sempre me impressiono com a eterna e incontestável verdade sobre as famílias: as crianças precisam do tempo e da atenção dos pais… Mas essa realidade pode se perder com uma facilidade incrível quando nos deixamos atrair pelo canto da sereia do mundo virtual.
Às vezes, ouvimos: “São os jovens que vivem grudados na tecnologia! ” Bem, é verdade que eles cresceram com a tecnologia nas mãos. Mas vamos dar uma olhada em nossos papéis como adultos. Pesquisas demonstram que as crianças não raro se sentem solitárias e deprimidas por estarem competindo com smartphones e tablets pelo amor dos pais.
Uma gerente de nível médio nos contou a história de como ela e o marido usavam a tecnologia perto da filha de 4 anos. Eles começaram a achar que precisavam mudar seu comportamento, porque, assim que chegavam em casa do trabalho, eles rapidamente pegavam os smartphones e se perdiam, cada um imerso no próprio mundo. Chegaram à conclusão de que aquele não era o exemplo a dar para a menina e perceberam que o tempo estava voando e que a filha logo deixaria de ser um bebê. Assim, bolaram um plano, sabendo que seria difícil se livrar do vício. Deixaram uma cesta ao lado da porta da frente e combinaram que, quando chegassem em casa, colocariam os smartphones na cesta. A cesta proporcionava um pequeno sistema de prestação de contas, porque os smartphones ficariam visíveis e seriam notados se fossem retirados.
Alguns dias depois de adotado esse novo comportamento, os pais foram pegar seus smartphones de manhã ao sair para o trabalho.
O que eles encontraram foi incrível. Na cesta, ao lado dos celulares, estava o pequeno iPod da filha. Eles não pediram para ela deixar o iPod na cesta. Na verdade, sequer conversaram com ela a respeito.
Mas a cabecinha e o coraçãozinho dela a compeliram a seguir o exemplo dos pais. E ela decidiu abrir mão da tecnologia para fazer parte da família!
Embora esse seja um exemplo de reprodução de um comportamento positivo, a história também pode ter um lado obscuro. Será que a criança não estava faminta pela atenção dos pais? Será que ela sentia que estava competindo com os smartphones pela afeição dos pais? Será que ela deixou o iPod na cesta na esperança de que esse ato pudesse, de alguma maneira, garantir o amor dos pais? Seja qual for a resposta, a mudança no comportamento em relação à tecnologia revolucionou a vida daquela família, proporcionando uma profunda atenção e energia do Q2 no breve tempo entre chegar em casa do trabalho e sair de casa para o trabalho no dia seguinte.
A necessidade de dar atenção aos relacionamentos não se restringe apenas ao âmbito de nossa casa e de nossa família. Um homem de 30 e poucos anos nos contou que, quando ele e os amigos vão a um restaurante, todos colocam os celulares em uma cesta e o primeiro a pegar o celular durante a refeição paga a conta. Para eles, essa é uma excelente maneira de encorajar a interação direta e reforçar os laços de amizade.
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