Por Stephen Covey
A Ética do Caráter se baseia na ideia fundamental de que existem princípios governando a eficácia humana – leis naturais para o relacionamento humano que são tão reais, imutáveis e indiscutíveis quanto a lei da gravidade no plano físico. Uma noção da existência real – e do impacto – desses princípios pode ser percebida em mais uma experiência de mudança de paradigma, relatada por Frank Koch em Proceedings, a revista editada pelo Instituto Naval.
Dois navios de guerra, realizando uma missão de treinamento da esquadra, estavam no mar havia vários dias, enfrentando mau tempo durante as manobras. Eu servia no navio líder, e estava de sentinela na ponte ao cair da noite. A visibilidade era quase nula, devido ao nevoeiro, de modo que o capitão permanecia na ponte, atento a todas as atividades.
Pouco depois do escurecer, o vigia da ponte avisou:
– Luz à proa, a boreste.
– Parada ou movendo-se para a popa? – perguntou o capitão.
– Parada, capitão – o vigia retrucou.
Significava que estávamos em perigo, em rota de colisão com o outro navio.
Imediatamente o capitão chamou o sinaleiro:
– Avise aquele navio: estamos em rota de colisão. Altere o curso em 20 graus.
– É melhor vocês alterarem o curso em 20 graus. – A resposta veio logo.
– Envie a mensagem: “Aqui é o capitão, mude a rota em 20 graus” – o capitão retrucou.
– Aqui é um marinheiro de segunda classe. – Foi a resposta. – É melhor vocês alterarem o curso em 20 graus.
– Envie a mensagem: “Este é um navio de guerra. Mude o curso em 20 graus” – o capitão, àquela altura, já furioso, disse rangendo os dentes.
– Este é um farol terrestre – o homem sinalizou de volta.
Nós mudamos o rumo.
A mudança de paradigma experimentada pelo capitão – e por nós, ao lermos este relato – coloca a situação em um contexto totalmente diferente. Podemos ver uma realidade que é maior do que sua percepção limitada, uma realidade tão difícil para nós compreendermos em nossa vida cotidiana quanto para o capitão no meio do nevoeiro.
Os princípios são como os faróis. Constituem leis naturais, que não podem ser rompidas. O diretor de cinema Cecil B. DeMille comentou os princípios expostos em seu filme monumental, Os Dez Mandamentos: “É impossível para nós quebrar a lei. No máximo, quebramos a nós mesmos contra a lei. ”
Embora os indivíduos possam examinar suas próprias vidas e relacionamentos em termos de paradigmas, ou de mapas resultantes de sua experiência e condicionamento, esses mapas não são o território. São apenas a “realidade subjetiva”, ou seja, somente uma tentativa de descrição de território.
A “realidade objetiva”, ou o território em si, é composta por princípios, o “farol”, que governam o progresso e a felicidade dos seres humanos, leis naturais que se entrelaçam, formando o tecido social de todas as comunidades civilizadas da história, abrangendo as raízes de todas as comunidades civilizadas da história, abrangendo as raízes de cada uma das instituições e famílias que sobreviveram e prosperaram. O grau de exatidão com que nossos mapas mentais descrevem o território não altera sua existência.
A validade destes princípios, ou leis naturais, torna-se óbvia para aqueles que examinam em profundidade e refletem sobre os ciclos da história social. Tais princípios vêm à tona de tempos em tempos, e o grau de harmonia e respeito que os membros de uma sociedade para a sociedade demonstram por eles leva essa sociedade para a estabilidade e a sobrevivência, ou então para a desintegração e destruição.
Os princípios a que me refiro não são ideias esotéricas, misteriosas ou “religiosas”. Esses princípios estão presentes em todas as religiões importantes e duradouras, bem como nos sistemas éticos e filosofias sociais importantes. Eles são evidentes, em si mesmos, e podem ser facilmente adotados por qualquer indivíduo. É quase como se esses princípios ou leis naturais fizessem parte da condição humana, parte da consciência humana, parte do conhecimento humano. Ao que parece, eles existem dentro de todos os seres humanos, independentemente do condicionamento social e da lealdade a eles, apesar deles poderem ser obscurecidos por esses condicionamentos e pelo abandono.
Eu estou me referindo, por exemplo, ao princípio da imparcialidade, a partir do qual se desenvolveu toda a noção de justiça e equidade. As crianças pequenas parecem possuir um senso inato de imparcialidade, mesmo submetidas a situações de condicionamento divergente. Existem ampla diferenças na definição e no modo de conquistar a imparcialidade, mas existe uma consciência quase universal do conceito.
Outros exemplos incluem a integridade e a honestidade. Elas criam as bases da confiança, algo fundamental para o estabelecimento da cooperação e do crescimento pessoal e interpessoal a longo prazo.
Um outro princípio é a dignidade humana. O conceito básico na Declaração de Independência dos Estados Unidos demonstra este valor ou princípio:
“Sustentamos que estas verdades são evidentes em si: todos os homens foram criados iguais, e dotados, por seu Criador, de determinados direitos inalienáveis, entre os quais se encontram a vida, a liberdade e a busca da felicidade. ”
Um outro princípio é o de servir, ou a ideia de dar uma contribuição. Outro ainda é o da qualidade, ou excelência.
Existe o princípio do potencial, a ideia de que temos a capacidade de evoluir e crescer, desenvolvendo um potencial cada vez maior, aprimorando nossos talentos. Bastante ligado, ao potencial está o princípio do crescimento – o processo de desenvolvimento de talentos e exercício do potencial, com a decorrente necessidade dos princípios da paciência, da educação e do encorajamento.
Princípios não são práticas. Uma prática é uma atividade ou ação específica. Uma prática que funciona em determinada circunstância não funcionará necessariamente em outra, conforme pode ser atestado por pais que tentaram educar um segundo filho exatamente como educaram o primeiro.
Enquanto as práticas são específicas para situações, os princípios são verdades profundas, fundamentais, cuja aplicação é universal. Elas servem para indivíduos, casamentos, famílias, organizações públicas e privadas de todos os tipos. Quando estas verdades são interiorizadas, como hábitos, elas conferem às pessoas a força para criar uma vasta gama de práticas capazes de lidar com as situações mais diversas.
Os princípios não são valores. Uma quadrilha pode compartilhar alguns valores, mas eles estão violando um dos princípios fundamentais que citamos. Os princípios são o território. Os valores são os mapas. Quando valorizamos os princípios corretos, temos a verdade – o conhecimento das coisas como elas são.
Os princípios são guias para a conduta humana, cujo valor permanente foi comprovado. Eles são fundamentais. Eles são indiscutíveis pois em sua essência são claros. Uma maneira de compreender rapidamente a natureza evidente dos princípios é simplesmente refletir sobre a tentativa absurda de se tentar viver uma vida eficaz baseada em seus opostos. Duvido que alguém considere seriamente a parcialidade, a artimanha, a mesquinhez, a inutilidade, a mediocridade e a degeneração como fundamentos sólidos para a felicidade e o sucesso duradouros. Apesar das pessoas poderem discutir sobre a maneira como estes princípios devam ser definidos, divulgados ou atingidos, parece haver uma consciência inata de que eles existem.
Quanto mais nossos mapas ou paradigmas estão próximos a esses princípios ou leis naturais, mais precisos e funcionais eles serão. Mapas corretos causarão um impacto imenso em nossa eficácia pessoal e interpessoal, muito mais do que qualquer esforço despendido na mudança de atitudes ou comportamentos.
Deixe um comentário ou insight sobre o tema abordado