Os princípios regem nossa existência, queiramos ou não, pois mesmo quem age desacordo com eles sofre as consequências.
Por Paulo Kretly
Os valores são pessoais, subjetivos e contestáveis, e podem, ou não, estar alinhados aos princípios. Não são necessariamente éticos, dependendo do caráter e da personalidade de quem os adota. Gandhi era um homem cujos valores pessoais – como a não-violência, a igualdade e a liberdade – estavam alinhados aos princípios. Hitler, por outro lado, tinha valores pessoais – por exemplo, a supremacia da raça ariana, a dominação pela força, a aniquilação de qualquer oposição, mas não possuía princípios. No entanto, isso não o impediu de sofrer as consequências de ter ignorado os princípios. O legado que ele deixou foi um dos mais nefastos da história. Enquanto Gandhi permanece até hoje como exemplo e inspiração para a humanidade, Hitler entrou para o rol das figuras mais odiadas da humanidade.
Nem sempre é fácil ater-se aos princípios. Na verdade, em nosso dia-a-dia, somos constantemente convidados a negligenciá-los – seja por comodismo, seja pela ilusória tentação de obtermos vantagem imediata, seja pela equivocada ideia de que os outros estão fazendo isso e se dando bem.
E assim, aqui e ali, atitudes questionáveis, mas aparentemente insignificantes, vão se acumulando: não devolver o troco quando se recebe a mais, ultrapassar o sinal vermelho quando ninguém está vendo, uma ou outra pequena mentira para deixar o currículo mais vistoso, sonegar algum imposto achando que não será apanhado, e gradualmente, quase sem perceber, passa-se a atitudes não tão insignificantes: assumir os créditos por um serviço que não fez, fechar os olhos ante uma injustiça para os erros, permitir que nossa dignidade, ou a de outros, seja ferida em nome da boa convivência com o chefe, da manutenção do emprego, do status, do poder, da fama.
Tudo isso nos coloca na mesma posição do sapo que, ao ser jogado na água quente, salta para fora de imediato. Porém, se a água estiver a temperatura ambiente e for lenta e progressivamente aquecida, ele irá acostumar-se a ponto de se deixar cozinhar. É exatamente nessa situação que nos encontramos quando fazemos concessões – por mais insignificantes que possam parecer, são capazes de comprometer pouco a pouco nossa integridade.
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